É uma tarefa complicada e um tanto ou quanto ingrata, esta de criticar. O preconceito que se leva quando se vai ver um filme é tanto, por vezes, que uma pessoa já sabe o que vai escrever antes de ver o mesmo. Esse preconceito pode surgir de inúmeras formas, seja por outras críticas, seja por amigos (que, por vezes, são quem nos influencia mais na nossa escrita), seja, caso o crítico se dedique a, ou se interesse por, actividades económicas, pelo lucro que o filme faz, seja pelos livros que inspiraram o filme que foram lidos antes do visionamento do filme. Acidentalmente li críticas (várias das quais apontava o filme como sendo o melhor do ano), ouvi amigos e li os livros, todos os seis volumes de uma das melhores bandas desenhadas que já li. E depois vi o lucro que o filme fez. E foi um fiasco. E é nessa altura que um crítico tem uma tarefa complicada - sem o ter visto, que juízo de valor tirar de um filme que deu prejuízo? Que conclusão pré-concebida tirar quando o melhor filme de 2010, para alguns, foi um fiasco de bilheteiras? E, nesse momento, desejei que o filme fosse mau. Porque se o filme fosse mau eu teria razões para regozijar o facto de ter sido um enorme insucesso de receitas. Mas não foi mau. E foi, realmente, um dos filmes de 2010.
Scott Pilgrim (Michael Cera), vinte e três anos, começa a namorar com uma rapariga de dezassete, Knives Chau (Ellen Wong), para grande deleite dos seus colegas de banda, Kim Pine (Alison Pill) e Stephen Stills (Mark Webber), mas também do seu companheiro de apartamento gay e extremamente porreiro, Wallace Wells (Kieran Culkin). Desenvolve-se mais um pouco da história, até que Scott fica apaixonado por uma outra rapariga, Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead). Esta prontamente lhe revela que, para ficarem juntos, ele tem de derrotar os seus Sete Ex Malvados, que incluem um indiano ao estilo dos filmes de Bollywood (Satya Bhabha), um vegan com poderes especiais - por ser vegan, entenda-se - (Brandon Routh), uma ninja lésbica (Mae Whitman) e, claro, um génio do mal (Jason Schwartzman). Isto tudo, enquanto evita ao máximo o contacto - inevitável - com a sua própria "Ex Malvada" - "Envy" Adams (Brie Larson).
O Óscar certamente que não ganhará - há filmes mais pretensiosos para isso. Que, no fundo, não passam disso, filmes pretensiosos sem grande substância. Há dois Óscares que eram mais que merecidos para este filme, se não o de Melhor Filme: o de Melhores Efeitos Visuais e o de Melhor Actor Secundário, para Kieran Culkin. Quer numa categoria quer na outra a genialidade que é impressa é demais para ser descrita. De resto, é um filme que é tudo menos banal. A realização, aliada aos efeitos visuais e à fotografia, é brilhante. A banda sonora - constituida, em parte, de músicas dos próprios livros - é um deleite. A actuação por parte destes teen actors é, quiçá, o melhor acrescento nos seus curricula. E este é, na globalidade, o melhor filme que vi em 2010 (quase a acabar, mas ainda o vi nesse ano!).
Genial. E é só. 98%
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