domingo, 9 de janeiro de 2011

Get Real (1998)

Não é preciso haver um grande realizador, um grande elenco, uma grande banda sonora original ou uma fotografia por aí além para haver um bom filme. Este filme não tem nada disso. Um realizador praticamente desconhecido pega num elenco com características peculiares, numa banda sonora banal e numa fotografia que não tem nada de novo, mais uma história de amor, dir-se-ia cliché, ao estilo de filme para adolescentes. Mas é muito mais que isso. É uma história de aceitação, de amor proibido entre duas pessoas, de passos a tomar, mas também da adolescência, de dúvidas, de confissões e de certezas. Há muito para amar neste filme e eu amei-o.

Um rapaz sente subitamente uma atracção irreprimível por outra pessoa, depois de uma espécie de 'caçada aleatória' feita numa casa-de-banho pública. É tudo muito complicado: a pessoa em questão já é comprometida, pertence a um círculo de amigos completamente diferente e não aceita muito bem a sua própria atracção pelo rapaz, Steven Carter (Ben Silverstone). Ah, e é outro rapaz essa pessoa em questão. Steven é gay e apenas a sua melhor amiga, Linda (Charlotte Brittain) o sabe e da sua atracção pelo outro rapaz, atlético, popular e bonito, John Dixon (Brad Gorton), e posterior relação proibida. Claro que o próprio Steven também é atraente e, apesar de violentado fisica e psicologicamente, tenta manter-se forte e, ao mesmo tempo que esconde a sua orientação sexual do mundo, tenta que John se aceite a si próprio e a ele. O desfecho de toda a trama é uma cena que começa por ser violenta, onde John tenta esconder-se a todo o custo dos amigos, mas que acaba de forma emocionante e com um excelente 'atar de nós' por parte de todas as personagens, umas melhor, outras piores.

É um filme onde toda a gente, sejam gays ou bissexuais ou heterossexuais, sejam pretos ou brancos ou chineses, sejam de que minoria forem ou da maioria discutivelmente "normal", toda a gente se sente identificada com problemas e inadaptações sociais das personagens. É um filme que não é grande - nem parece ter pretensões disso -, mas é um filme crítico que me tocou bastante. É crítico contra o conservadorismo bacoco, irrealista e religioso de alguns sectores da sociedade e avança valentemente contra, sobretudo, a homofobia primitiva e irracional que impera no colégio privado onde os principais "Romeu e Romeu" andam. É um filme que, a ter alguma pretenção, é a da aceitação de todos os que, como Steven ou John, têm medo de se mostrar ao mundo nas suas verdadeiras cores e de esperar tolerância por parte dos que rodeiam. No que, na realidade, nem é visto como um 'problema' neste filme: afinal, não passam de sentimentos de uma pessoa por outra. E somos todos pessoas.

Por tanto me ter tocado o quanto me tocou e me ter proporcionado aquelas que foram umas quase duas horas bastante boas, dou a este filme uma pontuação de 86%.

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